O Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) decidiu nesta terça-feira (26) arquivar a denúncia contra o deputado estadual Lucas Bove (PL), acusado de quebra de decoro parlamentar por supostamente teragredido a ex-esposa, a influenciadora Cintia Chagas.
Chagas é uma influenciadora com mais de 6 milhões de seguidores nas redes sociais e, no ano passado, prestou queixa contra o deputado e relatou uma série de abusos físicos e psicológicos durante o relacionamento de mais de dois anos que teve com o político. Ele nega as agressões (veja mais abaixo).
A denúncia de violência doméstica chegou à Alesp depois que a deputada Mônica Seixas (PSOL) protocolou um pedido contra Bove, pedindo a cassação do parlamentar.
Após análise do Conselho nesta terça (26), os deputados estaduais que formam o colegiado decidiram arquivar a representação por 6 votos contra 1. A única parlamentar que foi a favor da cassação foi Ediane Maria, também do PSOL.
Votaram contra o prosseguimento da denúncia na Alesp os seguintes deputados:
- Oseias de Madureira (PSD)
- Carlos Cezar (PL)
- Dirceu Dalben (Cidadania)
- Eduardo Nóbrega (Podemos)
- Rafael Saraiva (União Brasil)
- Delegado Olim (PP)
"Trata-se de um desserviço de membros da Alesp. Preocupados apenas com o corporativismo, com a autodefesa, homens públicos mostram indiferença às mulheres. Não é à toa que eu temia pela minha vida ao lado dele, o qual sempre afirmou que, por ser 'branco, com cara de rico e deputado, era imbatível'. Ele sempre disse que nada aconteceria com ele na Alesp", afirmou Cíntia Chagas.
A denúncia da ex
Em depoimento à Polícia Civil, Cíntia afirmou que o controle excessivo do acusado sobre sua vida começou já no início do relacionamento. Ela contou que sua vida profissional foi prejudicada pelo ciúme de Lucas, que exigia sua localização constantemente, pedia provas, como fotos e notas fiscais, e realizava chamadas de vídeo para verificar onde ela estava.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que o caso é investigado, sob sigilo judicial, por meio de inquérito policial instaurado pela 3ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). "Diligências estão em andamento visando ao esclarecimento dos fatos. Demais detalhes serão preservados", disse a pasta.
Além da suposta violência psicológica, Cíntia relatou episódios de violência física. Ela disse que o deputado desenvolveu o hábito de apertar partes de seu corpo a ponto de deixá-la com lesões.
Em um dos episódios narrados pela influenciadora, Lucas Bove teria arremessado uma faca em sua direção, sendo que o objeto teria atingido o chão antes de acertar sua perna, de modo a provocar uma lesão.
Cíntia também mencionou um incidente durante um casamento no interior de São Paulo, ocasião em que Lucas teria forçado a mulher a tirar fotos com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e, posteriormente, teria expulsado Cíntia da festa de forma agressiva.
A mulher contou, ainda, que, em diversas ocasiões, Lucas a humilhava chamando de "burra" e sugerindo que ela só tinha sucesso por ser "uma mulher bonita que fala bem".
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a 3ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) instaurou inquérito policial e solicitou medida protetiva após queixa de Cíntia. "O caso foi registrado como violência doméstica, violência psicológica, ameaça, injúria e perseguição. As investigações prosseguem sob sigilo judicial", completou a pasta.
A advogada Gabriela Manssur, que representa a influenciadora, definiu a decisão de Cíntia em denunciar as agressões "como um ato de coragem, de proteção à sua integridade física, psíquica e moral e, acima de tudo, como uma medida de sobrevivência, servindo de exemplo para todas as mulheres que se encontram na mesma situação".

